quinta-feira, 21 de abril de 2011

Maternidade

Olho-te: és negra.
Olhas-me: sou branca.
Mas sorrimos as duas
na tarde que se adeanta.

Tu sabes e eu sei:
o que ergue altivamente o meu vestido
e o que soergue a tua capulana,
é a mesma carga humana

Quando soar a hora
determinada, crua, dolorosa
de conceder ao mundo o mistério da vida,

seremos tão iguais, tão verdadeiras,
tão míseras, tão fortes
E tão perto da morte...

que este sorriso de hoje,
na tarde que se esvai,
é testemunho exacto
do erro das fronteiras raciais.

Dos nosso ventres altos,
os filhos que brotarem
nos chamarão com a mesma palavra.

E ambas estamos certas
- tu, negra e eu, branca -
que é dentro dos nossos ventres
que germina a esperança.

Glória de Sant'Ana
Poetisa Moçambicana

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