quarta-feira, 13 de abril de 2011

FAMÍLIA, TRABALHO, IDENTIDADE DE GÉNERO

Questão Tratada e Posição do Autor/a

“A representação da identidade feminina, o lugar atribuído à mulher na família e no trabalho, as relações de géneros e as relações de poder.”[1]

Segundo a Autora “As dicotomias começam a ser abaladas e as fronteiras atravessadas. (…) pouco a pouco estão sendo flexibilizadas e novas posições de sujeito estão sendo construídas, tanto pelas mulheres como pelos homens. (…) soluções vêm sendo produzidas e é indiscutível que temos um novo tipo de relacionamento entre os géneros.”[2]

Ideias Principais

- “Identidade estratégica e posicional na medida em que não compreende o sujeito como unidade-identidade, mas sim dentro do contexto no qual ele é promovido e articulado”.[3]

- “… redistribuição de papéis que subverte a norma tradicional de mulher – mãe – dona de casa.”[4]

- “A afirmação de identidade implica sempre a demarcação e a negação do seu oposto, que é constituído como sua diferença.”[5]

- “Á medida que a mulher foi desbravando novos caminhos, foi também conquistando uma liderança maior, tanto no mercado de trabalho quanto em outras áreas.”[6]

- “Na actualidade, a identidade feminina não é constituída apenas pelos papéis familiares (…) é o superinvestimento feminino nos papéis sociais da vida profissional e certo sentimento de rejeição aos papéis familiares.”[7]

- “Apesar do crescimento da participação da mulher no mercado de trabalho (…) inúmeros preconceitos ainda existentes no ambiente de trabalho”.[8]

- “Receber educação abriu-lhe as portas para a possibilidade de crescimento profissional o que significou o início da sua independência financeira, (…) emocional”. “A entrada no mercado de trabalho proporciona à mulher o direito de ser sujeito de si mesma (…) e a investir, pela primeira vez, em territórios até então masculinos, ocasionando a sensação de estar havendo uma reviravolta na definição dos géneros sexuais.”[9]

Termos/Conceitos

- Sexo - Define as diferenças biológicas e fisiológicas entre homens e mulheres.

- One-sex modelmodelo de sexo único

- Two-sex-modelDimorfismo sexual: quando há ocorrência de indivíduos do sexo masculino e feminino com características físicas não sexuais marcadamente diferentes.

- Dimorfismo radical

  • Diferença radicalmente diferenciada.
  • Separação entre hetero, homo e bissexual.
  • Naturalização da diferença.

- Género - define a masculinidade ou feminilidade convencionadas socialmente. Refere-se à construção cultural das características masculinas e femininas.

- Família – “Elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à protecção desta e do Estado”.[10]

– “Duas ou mais pessoas que se consideram como tal e que assumem obrigações, funções e responsabilidades geralmente essenciais para a vida familiar” (Barker, 1991, p.80).[11]

- Identidade de género – modo como cada um de nós se vê: como homem (masculino) ou como mulher (feminino).

- Trabalho –“ Realização de tarefas que envolvem o dispêndio de esforço mental e físico, com o objectivo de produzir bens e serviços para satisfazer necessidades humanas” (Giddens, 1997,p. 578).[12]

- Dualismo – estabelecer pares (homem/mulher, razão/emoção, público/privado).

Comentário Crítico

Este artigo inicia com uma exposição sobre as categorias de homem e mulher e de masculino e feminino, que são conceitos diferentes e reflecte sobre a distinção dos conceitos de sexo e de género ao longo da história.

A mulher era considerada inferior ao homem em todos os aspectos. Mas com o surgimento da igualdade de direitos, começou-se a distinguir o homem da mulher mas apenas no aspecto biológico, continuando a ser considerada inferior ao homem em todos os seus aspectos, como que o prolongamento do homem; o homem era o ser perfeito.

A mulher, durante muito tempo, foi considerada uma mera reprodutora da espécie humana, sendo remetida para o seu lugar doméstico: ficar em casa a cuidar do marido, dos filhos e das lides domésticas. Ao homem cabia o papel de trabalhador, de ser social. A mulher não tinha vontade própria, não tinha sentimentos e, mesmo a nível sexual, era impensável, quase proibitivo, sentir prazer no acto sexual.

Com o acesso à educação, a mulher começa a sentir-se pessoa com modos de estar, agir e pensar próprios, começa a ter um maior estatuto nas relações entre os géneros, de tal modo que deixou de haver fundamentos para lhe negar a igualdade de direitos e de oportunidades que o homem tinha.

Actualmente, na maioria dos países, principalmente nos chamados países ocidentais, a mulher emancipou-se e tem o seu lugar próprio também “fora de casa”. Integrou-se no mercado de trabalho, evoluiu nos seus estudos e já não vive em função da família (primeiro os pais, depois o marido e por fim os filhos). Tem ambições próprias, trabalha não apenas para complementar o orçamento familiar mas para sua realização pessoal e profissional.

Apesar desta evolução da mulher na sociedade ainda está sujeita a muitos estigmas:

- A responsabilidade das tarefas domésticas é quase exclusivamente assumida pelas mulheres, mesmo quando tem um trabalho remunerado.

- O facto de a mulher desempenhar simultaneamente o pape de esposa, mãe e profissional implica conflito e a contradição.

- Quando num casal a mulher tem uma remuneração ou um estatuto profissional superior ao do homem, este sente-se inferior.

- O apoio financeiro do homem na família é uma responsabilidade, enquanto o da mulher é visto como “útil”.

- Quando uma mulher “sobe” na sua carreira profissional suspeita-se de o ter feito através da sua identidade sexual.

Há ainda um caminho longo a fazer a nível de mudança de mentalidades. Homem e mulher têm de estabelecer uma relação de igualdade e de respeito, quer seja na relação de casal, profissional ou social. É necessário que ambos acordem para essa necessidade de quebrar paradigmas e que experimentem novas formas de comportamento.

“Enquanto o homem e a mulher não se reconhecerem como semelhantes, enquanto não se respeitarem como pessoas em que, do ponto de vista social, política e económico, não há a menor diferença, os seres humanos estarão condenados a não verem o que têm de melhor: a sua liberdade.” (Simone de Beauvoir)



[1] Silva, T. C. M, Amazonas, M. C. L. A e Vieira, L. L. F (Jan./Mar. 2010), “Psicologia em Estudo: Família, Trabalho, Identidades do Género”, Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica, p,151.

[2] Ob. Cit., p. 158

[3] Ob. Cit., p.154

[4] Ob. Cit., p.155

[5] Ob. Cit., p.156

[6] Ob. Cit., p.156

[7] Ob. Cit., p.156

[8] Ob. Cit., p.157

[9] Ob. Cit., p.157

[10] Declaração Universal dos Direitos do Homem, Artigo 16, 3

[11] http://cursosefa.do.sapo.pt/pdf/familia_ip.pdf

[12] www.solidariedade.pt/UserFiles/File/conceito-trabalho-dm.doc

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