quinta-feira, 5 de maio de 2011

Perspectivas Humanista no Serviço Social

Historicamente, o Humanismo é um movimento filosófico surgido no século XV dentro das transformações culturais, sociais, políticas, religiosas e económicas desencadeadas pelo Renascimento; evoluiu como antítese aos valores medievais (da ideia de “Deus como centro do Universo” e, por isso, tudo acorre por Sua vontade, à ideia de “o Homem é o centro dos acontecimentos que ocorrem graças à determinação humana para actuar e modificar a realidade de forma livre e responsável, passando de agente passivo a agente activo na sociedade).

Na perspectiva dos teóricos humanistas, o ser humano possui a capacidade inata de assumir o controlo da sua vida e de promover o seu próprio desenvolvimento por meio de capacidades exclusivamente humanas de escolha, criatividade e auto-realização.

O Humanismo tende a fazer o Homem mais humano, mais livre, através de todas as suas capacidades e forças criadoras.

O objectivo do Humanismo é a realização de homens íntegros que desenvolvem todas as suas capacidades de forma harmoniosa, equilibrada e segundo uma correcta hierarquia de valores, onde a razão e a vontade são os poderes para dirigir as emoções e a sensibilidade.

O Humanismo Personalista é uma visão centrada na descoberta do valor e da dignidade da pessoa humana, na integração e desenvolvimento de todos os aspectos humanos: físicos, intelectuais e espirituais dentro de uma teoria filosófica realista que utiliza todos os métodos possíveis de conhecimento (experimental, especulativo e explicativo) para a educação integral do ser humano.

No século XX os valores tendem a desaparecer, não em proveito de uma percepção adequada do social, mas do macroeconómico em que o indivíduo só é valorizado em termos económicos e que a vida deixou de ter um valor único.

A teoria humanista privilegia a criatividade, o amor, o altruísmo e outras manifestações de afecta e respeito mútuo.

Carl Rogers (1902-1987), pensador humanista americano, considera o ser humano activo, responsável e capaz de autodeterminar-se. Considera que o desenvolvimento da pessoa é um processo com vista a torna-la totalmente funcional o que implica ser capaz de escolher livremente assumindo uma nova perspectiva na relação entre liberdade e determinismo. Este processo está orientado para a direcção positiva da totalidade, integração, integridade e autonomia. A maturação da pessoa envolve também uma forma de estar criativa pois “o indivíduo continua a evoluir em direcção a tornar-se ele próprio e a agir de modo a providenciar a máxima satisfação das suas necessidades mais profundas.

A mensagem de Carl Rogers é indispensável para o retorno ao individual, ao pessoal, não como oposição e incompatível com o social, mas num individual que dá sentido ao social.

Carls Rogers utiliza os conceitos de “congruência” e “empatia” que define, no seu livro “De Pessoa para Pessoa”, da seguinte forma:

Congruência - “Em primeiro lugar, a minha hipótese é que o crescimento pessoal é facilitado quando o conselheiro é aquele que, na relação com o cliente, é autêntico, sem máscara ou fachada, e apresenta abertamente os sentimentos e atitudes que nele surgem naquele momento. Empregamos a palavra ‘congruência’ para tentar descrever esta condição. Com ela queremos dizer que os sentimentos que o conselheiro está vivenciando são acessíveis à sua consciência, que é capaz de viver estes sentimentos, senti-los na relação e capaz de comunicá-los, se isso for adequado. Significa que entra num encontro pessoal directo com o cliente, encontrando-o de pessoa para pessoa. Significa que ele é aquele que não se nega. Ninguém atinge totalmente esta condição; contudo, quanto mais o terapeuta é capaz de ouvir e aceitar o que ocorre em seu íntimo, e quanto mais é capaz de, sem medo, ser a complexidade de seus sentimentos, maior é o grau de sua congruência.”

Empatia – “A maneira de ser em relação a outra pessoa denominada empática tem várias facetas. Significa penetrar no mundo perceptual do outro e sentir-se totalmente à vontade dentro dele. Requer sensibilidade constante para com as mudanças que se verificam nesta pessoa em relação aos significados que ela percebe, ao medo, à raiva, à ternura, à confusão ou ao que quer que ele/ela esteja vivenciando. Significa viver temporariamente sua vida, mover-se delicadamente dentro dela sem julgar, perceber os significados que ele/ela quase não percebe, tudo isto sem tentar revelar sentimentos dos quais a pessoa não tem consciência, pois isto poderia ser muito ameaçador. Implica em transmitir a maneira como você sente o mundo dele/dela à medida que examina sem viés e sem medo os aspectos que a pessoa teme. Significa frequentemente avaliar com ele/ela a precisão do que sentimos e nos guiarmos pelas respostas obtidas. Passamos a ser um companheiro confiante dessa pessoa em seu mundo interior. Mostrando os possíveis significados presentes no fluxo de suas vivências, ajudamos a pessoa a focalizar esta modalidade útil de ponto de referência, a vivenciar os significados de forma mais plena e a progredir nesta vivência. Estar com o outro desta maneira significa deixar de lado, neste momento, nossos próprios pontos de vista e valores, para entrar no mundo do outro sem preconceitos.”

Na intervenção não directiva de Carl Rogers, “o técnico nunca aconselha, pergunta ou responde a perguntas mas procura devolver ao paciente o que este diz, de modo a clarificar os seus sentimentos e a possibilitar-lhe a reestruturação dos seus pensamentos e atitudes. O técnico tem a função de servir de ‘espelho’ para o paciente, é acima de tudo um facilitador sobre o problema apresentado. Na relação com o sujeito, o técnico deve utilizar algumas técnicas como: Envolvimento, Diagnóstico, Intervenção”.

A intervenção técnica privilegiada no S.O.S.-Criança é não-directiva e pode fundamentar-se na “Teoria Centrada no Paciente”, de Carl Rogers pelo facto de se assumir que o paciente tem capacidade para auto-orientar o seu próprio processo de mudança.

Para uma melhor compreensão deste tipo de intervenção técnica apresento o seguinte quadro-síntese:

Bibliografia

Núncio, Maria José da Silveira, Introdução ao Serviço Social – História, Teoria e Métodos, ISCSP, 2010

Ferreira, Jorge, “A Prática Profissional do Assistente Social numa Intervenção não Directiva”, Intervenção Social nº 8, ISSSL, 1993

http://www.suapesquisa.com/o_que_e/humanismo.htm

http://www.scribd.com/doc/36039877/Carl-Rogers-e-a-Abordagem-Humanista-Centrada-Na-Pessoa